“Muitas pessoas faliram por ter investido maciçamente na prosa da vida.

É uma honra arruinar-se por causa da poesia.”

Oscar Wilde

segunda-feira, março 26, 2012

Primaveras

Vivo de lembranças isoladas,
de flores de plástico,
surpreendidas
no baixo augusta,
vivo de acenos não recíprocos,
em meio a multidões
que devoram sinaleiras
às seis da tarde,
vivo de beijos jamais dados
em bocas nuas…
beijos ausentes,
de enamorados distantes
que se alimentam
da memória.

Beijos e memórias
rubras
por humores desvelados
em saborosas tardes
desfrutadas
nos jardins
da Casa das Rosas,
por desejos
mantidos em cárcere
enquanto o reencontro
mostra-se impossível,
por vigores
de coração pulsante
com força e ritmo
de bate-estacas…
rubras
por amores construídos
a cada olhar,
a cada sorriso,
a cada bebida degustada no
charmoso café
da Pinacoteca do Estado,
por amores vividos
a cada segundo,
e por seus segredos
repletos de aromas ainda
desconhecidos.

Há tempos
não vejo o sol,
não escuto os duetos,
os trios,
os quartetos
que se apresentam
ao amanhecer.

Há tempos
cometas não cruzam
meu caminho,
estrelas não brilham
em minha janela
não brinco com as nuvens.

Há tempos
não aprecio ao baile
das jangadas
que chegam e que partem,
ao gingado das tarrafas
à beira-mar.

Há tempos
meu coração dança
estático!

Degusto, contudo,
primaveras ocultas
nas paletas de
Van Gogh,
sinfonias
compostas nos vãos do Masp
que nos tocam
caladas,
tanguarás imaginários,
privados de suas habilidades,
em decorrência de
ébanos ciclos
de clausura.

Degusto, contudo,
as nuances e
complexidades
que formam
a mim
mesmo.

Eduardo Candido Gomes

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