“Muitas pessoas faliram por ter investido maciçamente na prosa da vida.

É uma honra arruinar-se por causa da poesia.”

Oscar Wilde

sexta-feira, abril 27, 2012

Sentimentos azul-outono

Contemplo,
em meu claustro,
revoadas
que buscam pelo
próximo verão,
aljôfares que
correm de encontro ao mar,
enquanto brisas ousadas
murmuram-me
confidências ao

pé do ouvido.


“O que penso
eu do mundo?
Sei lá o
que penso do mundo”,
assim como
desconheço o
que sinto;
sei, contudo, que sinto,
e isso me basta…


Arrisco, baldado,
olvidar-me, definitivamente,
de rigorosos alvitres
que me dilaceram…
recordes
de elegantes
lábios escarlates
que bailam ao
ritmo de Gardel,
de olhos
tão intensos que
inebriam com a
violência de fadas
impressionistas,
de curvas
tão fartas que se
tornam perigosas
(VÓRTICES DE EMOÇÃO!)
silhuetas sinuosas
em que desejo
me encontrar
e me perder.


Arrisco e falho!
o sei, de certo;
sobra-me, pois,
diante de persistentes
reveses,
degustar o céu
azul-outono
embebido pelo saibo
doce-amargo
de amores
impossíveis.


 
Eduardo Candido Gomes
 
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quinta-feira, abril 26, 2012

Projeto Multifocais

Multifocais é um blog que pretende reunir boas ideias, de maneira independente, desvelando distintas formas de pensar e de visões de mundo; espaço democrático em que todos podem opinar, comentar, e enviar seu próprio material.

Caso deseje fazer parte de nossa mistura envie seu texto para multifokais@gmail.com.


Eduardo Candido Gomes

Raimundo Nonato (Parte V)


— Cuidei de seu rebanho, Assis — diz consumindo um gole.
— De meu rebanho? Está louco!
— Não fale assim comigo, que lhe fui fiel. Ingrato!
— Cale-se e dá-me um trago!
— Não lhe dou nada enquanto não se desculpar!
— Desculpar-me? Ora, por qual motivo?
— Ofendeu-me, logo a mim, que lhe fui fiel, como pôde?
— E quando o ofendi, pode dizer-me? Dá-me um trago.
— Como ousa dizer que não cuidei de seu rebanho? Fui o melhor pastor que você já teve um dia e fui o melhor porque o fiz por devoção.
— E quando o acusei do contrário? O que tem dentro desse frasco? Dá-me um gole!
— Tenho o mundo!
— O quê?
— Tenho o mundo, ora.
— E como há colocado todo o mundo nesse recipiente tão limitado? Acho improvável.
— Deixe-me em paz!
— É um mentiroso, logo vi.
— Cale-se, não quero mais continuar essa conversa — disse sorvendo outro gole, secando aos lábios com o guardanapo que trazia no bolso de seu blazer.
— Está bem, mudemos então o rumo da prosa, sobre o que quer falar?
— Com você, nesse exato momento, sobre nada. Deixa-me em paz!

Após alguns minutos subindo e descendo pelas ruas da baixa Bela Vista, em silêncio, para e encara uma árvore de copa mediana, permanece por alguns momentos fitando-a, ao que vê um casal de joões-de-barro de dorsos vermelho-terra pousados em um galho, tenta estimular o canto dos pássaros, como que chamando a um cachorro, o que faz com que o casal apresente um curto dueto antes de retomar o voo. Continuando em sua rota sinuosa, chega a um casebre simples, cuja construção deve datar de meados dos anos trinta e tem sua fachada desgastada pelo tempo, implorando por melhorias, sua mureta baixa adornada por um discreto jardim repleto de galhos secos e grama escassa e um pequeno, todavia distinto, apesar dos sinais de ferrugem, portão de ferro com rosas de aço em sua parte inferior na extremidade direita da mureta. Ao transpassar o portão, há um caminho formado por três pedras que dão acesso à pequena varanda, que antecede a porta de entrada centralmente disposta na parede frontal, amparada por um par de janelas laterais protegidas com grades, onde está uma solitária cadeira com estrutura de metal e apoios em tiras cilíndricas de plástico colorido, típicas do interior do estado, onde Raimundo senta-se com seus sonhos, resmungando algo indecifrável.

— Não entendo o que está falando.
— Não estou falando com você! E sim cá com meus botões.
— Deixe de bobeira, sabe que tem apenas a mim como companhia. Façamos as pazes, o que acha?
— Por que pensa que tenho apenas a ti como amigo? Tenho muitos, para seu governo, tenho inclusive uma namorada!
— Dessa eu não sabia!
— Seu problema é achar que sabe tudo a meu respeito, como penso, como vivo, com quem me relaciono ou deixo de fazê-lo. Você é parte apenas, não se esqueça.
— E quem é a dama misteriosa a quem chama de namorada?
— Não lhe interessa. Saiba, pois, que lhe comprarei, inclusive, um belo presente, pois fará anos.
— E quantos ela tem?
— Quantos o quê? Namorados? Apenas um, obviamente.
— Quantos anos, palerma!
— Ah!! Não sei, você sabe bem como são as mulheres, cheias de segredos com alguns números que para nós, homens, não fazem nenhum sentido.
— Bem sei! E como vocês se conheceram?
—Não me lembro ao certo, ultimamente algumas lembranças estão embaralhadas em mim, mas de fato namoramos, até já li um poema para ela, sabe, eu adoro a poesia, pois está presente em tudo, na dor, na alegria, no amor, no ódio, no dia, na noite, no sol, na chuva… para lê-la, precisa-se apenas ter os olhos certos de cada momento.
— E pressuponho que você tenha esses olhos…
— É claro, até parece que não estava comigo quando aquele casal há pouco nos declamou seus versos estridentes.
— Que casal? De pássaros?
—De fato você não tem os olhos necessários, Assis. Diga-me, como você enxerga o mundo?
— Enxergo-o como é, oras, comigo as coisas são preto no branco, não fico por aí divagando sobre a vida ou sobre o amor e coisas sem nexo. A vida é curta e não vou desperdiçá-la com filosofias insignificantes embaladas em vidro e enrolhadas por dúvidas.
— Será que você a vive de fato? Bom, chega de papo que está na hora do almoço e estou ficando faminto — diz levantando-se com certa dificuldade da confortável, apesar de simples, cadeira em direção à porta principal. Procura pela pequena chave apalpando seu bolso direito, contudo não a encontra. Para, pensa por alguns instantes e, com a satisfação do esportista que melhora sua marca após exaustivas jornadas, retira-a do bolso interno de seu casaco, comentando com certo sarcasmo e orgulho de seu feito:
— Aposto que achou que eu não sabia onde ela estava, não é?
Entretanto Assis já não estava ali, e sua pergunta permaneceu sem resposta, assim como seu feito, sem plateia.

...

Continua...

Eduardo Candido Gomes

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quarta-feira, abril 18, 2012

Assimetria


Infância
de marcas,
sinaleiras,
corda-bamba,
doce,
amargo
e tesouros de vidros
ocultos.
Vida desbotada.

O inicio
(um fim sem propósito)
perscrutar
(ver e não poder tocar)
panorama
(de um horizonte)
esperança
(de uma música diferente)
Pátria
(que uma criança espera)
prantos
(que se derramam sem que uma criança entenda)
vida
(que a nação espera)
De crianças que podem ser felizes.

Vago

Futuro extirpado
presente e passado
infausto;
Abraços vazios (...)
olhar tacanho
suplica afago em
vida subtraída...
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de sonhos que sangram natimortos!

Eduardo Candido Gomes

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terça-feira, abril 17, 2012

My Valentine



What if it rained?
We didn't care
She said that someday soon
The sun was gonna shine.
And she was right,
This love of mine,
My valentine
As days and nights,
Would pass me by
I tell myself that i was waiting for a sign
Then she appeared,
A love so fine,
My valentine
And i will love her for life
And i will never let a day go by
Without remembering the reasons why
She makes me certain
That i can fly
And so i do,
Without a care
I know that someday soon the sun is gonna shine
And she'll be there
This love of mine
My valentine
(instrumental)
What if it rained?
We didn't care.
She said that someday soon
The sun was gonna shine
And she was right
This love of mine,
My valentine


Paul McCartney

segunda-feira, abril 16, 2012

Raimundo Nonato (Parte IV)



O calor estrangeiro de meio de ano perpetua-se, desvelando um inverno às avessas. Damas-da-noite perfumam a atmosfera enquanto acendo meu cachimbo para mais uma sessão noturna de trabalhos literários acompanhado por John Coltrane. Com a porta do escritório devidamente cerrada, sento-me confortavelmente no sofá de couro preto que ocupa longitudinalmente o espaço, afrouxo minha gravata enquanto a ventana mantém-se inviolada, apesar de aberta e convidativa. Meu processo criativo está imobilizado, continuo pensando nas razões de Raimundo, o cursor oscila insistentemente intimidando-me. Levanto-me, desviando meus olhos para a rua, novamente deserta, puxando secamente os aromas de meu tabaco de chocolate, expelindo-os e sentindo sua mistura com o jasmim já presente.

Os ponteiros registram duas e dezessete da madrugada quando decido enfrentar minha paralisia criativa, repouso, então, o cachimbo sobre a mesa, sento-me em minha cadeira e escolho algumas páginas soltas. “Hoje será no método convencional”, penso alto enquanto desligo o monitor. Sobre a mesa encontra-se a obra cuja absorção, ainda inacabada, tem ocupado parcialmente minhas noites, abro-a despretensiosamente e empeço uma leitura em que a morte faz-se presente de maneira integral, o que proporciona em mim uma mudança brusca de reflexão, afinal há alguns dias senti-me cercado por ela…

“A morte, surda, caminha
ao meu lado
e eu não sei em que esquina
ela vai me beijar…”

O que diria a psicanálise a respeito de minhas dúvidas, de meus medos? Tenho por mim que morrerei em algum acidente, sempre tive essa sensação, talvez por algum trauma que desconheça, fato que me apavora em qualquer deslocamento por terra, água ou ar que tenha de fazer. Minhas fobias começam a aflorar e as palavras correm em textos poéticos cujos ritmos lhes são dados por rimas internas e por minha respiração levemente ofegante. Seria o calor ou o tema o motivo da palpitação? Desconheço. Escrevo produtivamente por horas e, aos sons dos primeiros bem-te-vis, noto que o dia começará a nascer em breve e será longo. É engraçado como o nascer do sol e as colorações dele derivadas no horizonte, assim como a primeira brisa da manhã, são rejuvenescedores. Organizo os esboços que construí durante a noite e repouso no sofá por um breve momento antes do início oficial de meu dia. O silêncio ainda é dominante na cidade que acorda, aos poucos, para mais um ciclo alucinado.

Desperto assustado com o toque do telefone que está ao meu lado, atendendo-o com a voz embargada. Era engano. Distante, ouço alguns gritos cujo timbre acredito reconhecer, levanto ainda, parcialmente, curvado, trajando a roupa do dia anterior, caminho em direção à janela e, aqui de cima com o sorriso da certeza em meus lábios, ouço:

— Cuidei de seu rebanho, Assis — em brado de desgosto com a voz levemente embaralhada e com o dedo em riste relembrando tempos pretéritos.

“Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os pensamentos
E os pensamentos são todos sensações

Era novamente Raimundo que seguia rumo à Alameda Joaquim Eugênio de Lima nos primeiros de muitos passos de sua peregrinação daquele dia. Olhando aquela cena de discussão, em meio à rua ainda pouco movimentada por transeuntes, mas já trafegada por alguns veículos, senti-me um Big Brother observando seus caminhos, conhecendo seus medos, suas amarguras, suas venturas, seus planos, sem que os tenha, conscientemente, permitido a mim e aos outros possíveis o acesso lícito a seu meandro interior. Cerro a janela e recolho-me por mais alguns instantes, deixando-o seguir por suas escolhas.

...

Continua...

Eduardo Candido Gomes

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domingo, abril 15, 2012

Raimundo Nonato (Parte III)



O pôr do sol estarta, camadas de cores engolem-se a cada segundo. Sento-me para saboreá-lo em um aconchegante café a céu aberto, momentos ímpares que precedem o início de uma nova noite de inverno, cujo ambiente, entretanto, lembra-me os melhores dias de verão. Enquanto aguardo por meu pedido, aprecio os transeuntes e suas fisionomias, posturas, alguns caminham em duplas ou em trios conversando, sorrindo, contando seus planos, enquanto outros, mais centrados, amadurecendo ideias, passam como flechas lançadas para seus próximos compromissos.

Presos em liberdade!

Tento ler seus pensamentos; acredito, por enxergar seus olhos, que são, majoritariamente, angustiantes. É incrível como sobrevivem sem olhar para o céu, sem contemplar as estrelas, sem notar os beija-flores da vida em seus caminhos.

“Quando o sol se deita,
respira-se à beira dos golfos
o perfume dos limoeiros;
mais tarde, à noite,
nos terraços das vilas,
a sós e com os dedos confundidos,
olham-se as estrelas
e fazem-se projetos”.

Uma delicada senhorita, com voz suave, de baixa estatura, tez parda, cabelos pretos e presos, olhos grandes igualmente escuros, em ritmo mecânico e caótico, serve-me uma deliciosa torta mousse de chocolate meioamargo, acompanhada por um “espresso”, expresso, das fazendas de Ribeirão e de água gaseificada com duas rodelas de limão siciliano; agradeço-lhe com um sorriso e começo a degustar, em pequenas porções, aquela iguaria incomparável, feita com pedacinhos amendoados da Amazônia, todavia, sigo observando à minha volta. Noto, enquanto bebo um gole de meu café, um casal de turistas que observa, com ar descontraído, ao cardápio de um restaurante italiano, folheando-o e sentindo os aromas mediterrânicos a cada página virada. Enquanto eu ouvia Ecclesiam, de uma das páginas de Os bastidores: “As catedrais estão velhas / e as palavras antigas / não renovam os homens” e a máquina do caixa do restaurante me chamou a atenção com o seu despertar de “faturei mais um”, penso que seja assim, um caixa com aquele alarido todo, como quem diz para todos: ele pagou, mais um pagou.

Desabrocham de um poderoso saxofone, em meio ao turbilhão de carros que passam indo e vindo, ou vindo e indo, os acordes de Emmenez-Moi, sinto-me confortavelmente acomodado num dos camarotes do Olympia em plena América do Sul, percorrendo as lembranças postas à tona pela melodia. Cerro os olhos e sinto-me regendo-a com a ponta dos dedos, disto de mim, estou ao seu lado, segurando em sua mão, encantado por seus sorrisos, encantado por seus gestos, encantado por si; em um medley incomum, os sopros do artista expelem Cartola, com a paisagem carioca, de nosso primeiro encontro, despontando em uma renovação de cenários inesperada.É incrível como nossa essência confunde-se ao ponto de não sabermos onde começamos e onde terminamos. Volto em meio aos aplausos efusivos ao fim da apresentação, inebriado por sentimentos únicos.

“Se tu amas uma flor
que se acha numa estrela,
é bom, de noite, olhar o céu.
Todas as estrelas estarão floridas.”

Após um par de horas, em passos estudados, enceto meu retorno. So in Love é a melodia em minha vitrola, e o momento pede o requinte de Frank com a precisão de Cole, dedilhando vinte e uma notas por segundo em meu piano. Contemplo o céu florido, criando figuras com as estrelas, fotógrafos eternizam o Masp de vão despojado, pilares, canteiros e espelhos d’água banhados em luar, em meio a oscilações de veleiros em berimbaus; avisto Raimundo, que não mais traja camisas imaginárias de seleções ou clubes, tem, no entanto, as mangas de seu blazer na altura dos cotovelos com um pedaço de madeira ostentado em sua mão direita, cantando Detalhes aos quatro ventos, homenageando dessa feita outro rei. Ao passar por ele, sorrio e obtenho a mesma resposta simpática de quem continua com seu show particular em público, afinal, sua performance é para ninguém menos do que ele mesmo.

Invejo-o e sigo meu caminho metamórfico.

Penso, ao aproximar-me de meu destino, lembrando-me de outros exemplos pelos quais passei durante a vida, sem a devida atenção depositada em Raimundo, qual teria sido o momento definitivo em suas vidas, o momento que os fizeram seguir pelos caminhos que escolheram. Será que tinham consciência de sua relevância, naquele tempo? Será que sabiam da importância dos preços a serem pagos? Quero dizer, será que tais preços pagos foram significativos em seus pontos de vista, ou suas pseudoliberdades, aos meus olhos, lhes são tudo o que precisam para viver plenamente em consonância com seus ideais? É engraçado projetar a felicidade, a própria ou a dos demais, à nossa própria forma, de acordo com nossos próprios padrões, olvidando-nos da individualidade; contudo, sempre que vejo alguém que não se enquadra dentro dos meus, preestabelecidos em minha consciência ainda em minha tenra idade de acordo com os modelos com os quais sou familiarizado, questiono-me de maneira semelhante à feita durante meus últimos passos.

...

Continua...

Eduardo Candido Gomes

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sábado, abril 14, 2012

Raimundo Nonato (Parte II)

Desperto, enfim, com afinados bem-te-vis, tão magníficos quanto solos de Ella Fitzgerald, que se divertem em galhos robustos de um ipê-roxo que se reflete no solo por meio de flores desapegadas. Uma revoada complementa a orquestra e, de minha janela, avisto Raimundo Nonato, simpático cavalheiro, diuturnamente ébrio, que percorre os arredores ostentando, com ares aristocráticos, movimentos lentos e elegantes, um quepe no estilo marinheiro — assessório que me levou a rebatizá-lo dessa maneira —, um blazer azul-marinho com dois botões na mesma tonalidade e punhos carcomidos por conta, acredito, de seu uso exaustivo, adornado por uma flor, colhida em jardins olvidados e já desbotada, em sua lapela, e por um guardanapo, tratado como seda chinesa, em seu bolso, calças de sarja que sequer cobrem-lhe os tornozelos, em estado semelhante ao do blazer, uma camisa listrada, verticalmente, em azul e branco, e um par de sapatos de bico fino, com leves detalhes, trabalhados à mão, no couro marrom-café, bastante desgastado e opaco por conta da escassez de graxa, cujos solados periódicos noticiam jornadas intermináveis em busca do que não se sabe e, por ora, não foi encontrado. Faz, narra e comemora mais um de seus gols imaginários nas esquinas da Alameda Ribeirão Preto com a Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Por sua celebração efusiva, acredito ter sido um gol importante, quiçá, de final de copa do mundo; “Foi, foi, foi, foi ele, o craque da camisa…”, brada efusivo.

Findada sua comemoração, sorve dois goles de sua aguardente, beijando a garrafa para em seguida erguê-la com as duas mãos por sobre a cabeça, exibindo-a a todos, orgulhoso de seu feito; segue, contudo, em sua romaria com a “taça” em punho.

Gols,
dribles,
sonhos de infância
exibidos, à luz do dia,
pelas savanas bomfimnianas.

Preparo-me para iniciar o dia, após o breve desjejum na companhia dos meus, despeço-me com beijos e abraços carinhosos. Com o pensamento pronto, marcho por trilhos de progresso rumo à Ana Rosa; encontro-me, em poucos minutos, com o querido amigo e mestre, Camelo Ponte, com quem partilho, desenvolvo e construo tarefas, ideias, visões, sonhos, ideais para fomentar a cultura da educação e a educação da cultura, em revoluções de pensamentos e epistemes, “afoitos, rios que se ocultam em afluentes / transeuntes que desaparecem sob as cinzas do tempo”.

O “Bom”,
o“Belo” e o “Bem”
vivenciados a cada instante!
…………………………………………………………………………………………………………….
A poesia e o poeta
a realidade e a verdade
o poeta e a poesia
a verdade e a realidade
a realidade-poesia
a verdade-poeta!!!

O trabalho consome, todavia rende, e o tempo voa de maneira prazerosa e intensa. É curioso como perdemos a noção de tempo/espaço quando tratamos de assuntos que nos são importantes e deleitosos. Despedimo-nos por algumas horas para tratar de temas distintos e ganho as ruas da cidade andante sob o deslocado, sol de Alencar, acolhendo de bom grado uma rara rajada de brisa, que me é dedicada, em meio ao calor asfixiante de prédios, carros, motos, que elevam à sensação térmica ao firmamento. As pessoas refrescam-se como podem, em uma quelha, próximo à Biblioteca Nacional, cinco crianças banham-se, apenas de bermudas, em uma mangueira cujo bico apontado para o céu simula garoa em formato de cogumelo, à minha esquerda, com as compras repousadas no solo e olhar exausto, uma mulher, cujos cabelos despiram-se, há muito, da melanina, seca os humores que lhe são segregados e escorrem pelas têmporas, sob uma acolhedora sombra desenhada por casebres centenários, contíguos, que exalam história, construídos com sangue imigrante, em meio ao vasto mar de luz que inunda o centro da cidade.

“No entardecer dos dias de verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa…
Mas as árvores permanecem imóveis”.

Detenho-me por instantes examinando-os, pormenores milimetricamente esculpidos em madeira,em pedra… Sulcose figuras que são nada apartados do conjunto; todavia, à média distância, explicam-se e tornam-se imponentes; as janelas dão o ritmo dessa sinfonia.

O relógio move-se em ritmo vigoroso e prossigo com minha agenda ainda que extasiado por belezas desveladas.

“Às vezes,
para chegar exatamente aqui onde estou,
é preciso ir muito longe…
os caminhos não podem ser percorridos rapidamente.
É preciso acumular conceitos,
imagens, histórias (…), poemas,
porque ‘o mundo é uma escola’
e ‘a universidade é o caminho’.”

...

Continua...

Eduardo Candido Gomes

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sexta-feira, abril 13, 2012

Raimundo Nonato (Parte I)

O silêncio é dominante, ouço apenas pensamentos e o barulho de páginas viradas de tempo em tempo. Seria possível notar passos na rua, caso fossem dados. O negrume espalha-se pelo ambiente corroído por um tênue foco de luz que se projeta, em tela, desvelando “crimes e castigos”. Tudo é estático, à parte os olhos que devoram, alucinados, palavras, frases, capítulos inteiros a cada nova linha.


Levanto e sirvo-me mais uma dose de Bourbon acompanhado por uma solitária pedra de gelo. Minha viagem a São Petersburgo é interrompida e com o copo na mão penso em meus caminhos, coloco a bebida sobre o porta-copo disposto ao lado de alguns retratos que repousam sobre a mesa de jacarandá, cujo corpo é talhado por belas nervuras, extingo a fonte luminosa vigente e sento-me. As janelas do escritório estão abertas, um sutil sopro externo penetra-o, oscilando as persianas de madeira e resfriando seu interior, enquanto permaneço imóvel. Lembro-me com riqueza de detalhes do sorriso exclusivo de minha avó e, a seu lado, está deitado, de modo peculiar, meu companheiro caramelo com as orelhas molhadas após fartar-se de água fresca. Avista-me e corre como em sua juventude, trajando sua camisa listrada em faixas horizontais nas cores vermelho, amarelo e branco, em minha direção. Sua saudade é tão significativa quanto a minha, abaixo-me e recebo infinitos beijos sinceros. Lágrimas brotam de meus olhos, regando meu rosto com ventura, enquanto o agarro, como que tentando materializá-lo novamente. Sei que meu reencontro é verdadeiro, já que seus pelos macios, seu nariz úmido e frio, sua potente pata de leão, são tangíveis naquele momento; pego-o em meus braços e sinto,subitamente, os dedos de meu anjo entre meus cabelos, afagos fraternos com que me brindava quando criança. O tempo avança, e adormeço sorrindo.


A escuridão verga a vida energizada pelos raios do sol que desabrocha no horizonte em meio ao céu royal despido de nuvens, conquistando campos urbanos. Alamedas, veredas, avenidas, outrora desertas, tornam-se palcos onde histórias serão construídas em cada vocativo, em cada vírgula, em cada exclamação, em cada detalhe de seus indivíduos.


Pauliceia em traços e aquarelas de Veras…


Despeço-me.


...


Continua...


Eduardo Candido Gomes


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quinta-feira, abril 12, 2012

Hotel Rwanda

Hotel Ruanda, ou Hotel Rwanda como em seu título original, conta a história de Paul Rusesabagina, gerente de um hotel cinco estrelas, localizado em Kigali, capital do país centro-africano. Ele leva uma vida confortável junto de sua família e mantém relações sociais bastante amistosas com pessoas deveras influentes por conta de seu cargo executivo.


Após o fatídico acidente que culminou com a morte do presidente Juvenal Habyarimana, de origem hutu, a vida de Rusesabagina e de todo o país mudaria drasticamente; esse fato marcou o início de um dos momentos mais tristes da história, que acarretaria o assassinato de aproximadamente um milhão de pessoas em pouco mais de cem dias.


O filme foca o período em que a milícia ruandesa, formada por hutus, decide exterminar a minoria tútsi, assim como seu posterior conflito armado com rebeldes tútsis que haviam invadido as fronteiras ruandesas, vindos de Uganda, onde estavam exilados.


Em meio à desgraça, ao ódio e à intolerância, surge o personagem principal, que muda a forma com que o mundo enxergaria o conflito; Paul, que é hutu, é casado com Tatiana, de origem tútsi, e têm quatro filhos: Roger, Diana, Lys e Tresor. Sua luta, inicialmente, é pela sobrevivência de sua família e de seus amigos mais próximos.


Para os milicianos genocidas, Rusesabagina, é visto como um traidor por abrigar e defender “as baratas”, forma pejorativa que usavam para se referir à minoria.


Com a fuga dos cidadãos estrangeiros, retirados do país pelas forças militares europeias, o hotel se transforma em um campo de refugiados em meio à carnificina que ocorria fora dos muros do Lês Mille Collines. Nenhuma superpotência ou organização mundial enviou qualquer tipo de auxílio aos ruandeses, sendo que o efetivo militar das Nações Unidas, em meio ao ápice do massacre, era de 300 soldados, que já estavam no país antes do início da crise e agora precisavam proteger aos cidadãos, que eram perseguidos, em toda sua extensão territorial.


Rusesabagina utilizou a proximidade que mantinha devido aos mimos e às posteriores propinas oferecidas ao general do Exército Áugustin Bizimungu, para negociar a segurança nos arredores do hotel, o que impediu a invasão e consequente morte das 1.268 pessoas que estavam sob sua guarda. Esses refugiados, posteriormente, foram transportados de forma clandestina, por veículos das Nações Unidas, para além das linhas rebeldes, que avançavam encurralando a milícia, o que os deixou a salvo da ira dos facões e das foices inimigos.


O filme é excelente e deu a Don Cheadle uma indicação ao Oscar de Melhor Ator, como o intérprete de Paul Rusesabagina, que hoje vive com a família em Bruxelas, na Bélgica, e ficou marcado para a história como o Oskar Schindler de Ruanda.


Direção: Terry George


Elenco: Don Cheadle, Sophie Okonedo, Joaquin Phoenix, Nick Nolte


Duração: 121 minutos


Maiores detalhes sobre a história de Ruanda podem ser obtidos em: http://multifocais.wordpress.com/2011/08/27/dos-desastres-da-colonizacao-ao-genocidio-de-ruanda-2/


Eduardo Candido Gomes


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terça-feira, abril 03, 2012

Dos desastres da colonização ao genocídio de Ruanda

Quando o debate gira em torno do Continente Africano, existe a certeza de que temas como violência, intolerância, corrupção e miséria serão abordados; é impossível, pois, discutir ações ocorridas no presente e quais as melhores medidas a serem tomadas para evitá-las no porvir, sem que antes entendamos a construção pretérita daquela sociedade em foco.


A análise de Ruanda não é diferente. País localizado no centro da África, cuja capital é Kigali, faz fronteiras com Uganda, Tanzânia, Burundi e República Democrática do Congo. Por volta de meados do século XIX, era dividido majoritariamente por duas etnias: os tutsis e os hutus. Era regido por uma monarquia composta por vassalos da etnia tutsi, a minoria entre os dois grupos.


Em 1890, durante a Conferência de Bruxelas, foi definido que aquele território seria ocupado pela Alemanha, recém-unificada, cujo processo havia sido encerrado em 1871, fato que ocasionou a saída tardia do novo país em busca de territórios a serem explorados no continente negro.


O sistema monárquico, que já era vigente, foi mantido após o domínio alemão, promovendo um distanciamento entre as duas etnias, o que resultou na organização, pelos hutus, de algumas revoltas que foram duramente reprimidas pelos tutsis com o apoio germânico. Contudo, em 1916, após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, o território ruandês foi ocupado pelas forças belgas, integrando o país africano à Liga Belga das Nações.


O novo colonizador redefiniu os grupos étnicos, desconsiderando as características pretéritas de cada um deles; para os belgas, toda pessoa que tivesse mais de dez vacas e/ou traços mais próximos aos traços dos europeus seriam denominados tutsis, e assim identificados em seus registros, constituindo dessa forma uma elite governante para a colônia que se apoiaria na Igreja Católica para exercer o poder.


Os pesados impostos cobrados dos hutus e os trabalhos forçados a que eram submetidos ajudaram a ampliar ainda mais o desnível socioeconômico entre eles; caso algum membro hutu conseguisse ascender socialmente, este seria redefinido como tutsi e passaria a ser taxado em suas obrigações para com o país diferenciadamente.


Em 1959, o então rei Mutara III foi assassinado, sendo sucedido por Kingeni V, o que desagradou setores da população que demandavam maior representatividade e participação política dos hutus nas decisões fundamentais para o país. No mesmo ano houve a tentativa de assassinato do político Dominique Mbonyumutwa, membro do Partido pelo Movimento de Emancipação Hutu, o que ocasionou uma grande revolta denominada Ventos da Destruição, em que milhares de tutsis foram brutalmente assassinados e outros milhares se refugiaram além das fronteiras.


Já em 1961 a Bélgica organizou um referendo em que todos os cidadãos ruandeses votariam pela continuidade ou pelo fim do modelo aristocrático em evidência por mais de um século; a maioria, composta por hutus, não teve dúvidas e decidiu contrariamente à monarquia. No ano seguinte, com o apoio da ONU, a metrópole deixou o território ruandês, sendo proclamada a independência do país, que teve Dominique Mbonyumutwa, que sobreviveu ao ataque de 1959, como presidente do governo de transição.


No mesmo ano foram organizadas eleições para legitimar o primeiro governo democraticamente eleito de Ruanda no século XX, e Grégoire Kayibanda foi eleito para um mandato de cinco anos, sendo reeleito por mais duas vezes sequenciais.


Quando o país estava conseguindo se reposicionar, já em 1973, novas revoltas reacenderam os conflitos entre os grupos, culminando em um golpe de Estado praticado, no dia 5 de julho de 1973, pelo então ministro da Defesa, e primo do presidente Kayibanda, Juvénal Habyarimana, que dissolveu a Assembleia Nacional e aboliu todos os partidos e atividades políticas do país. Dois anos mais tarde, Habyarimana, que comandava um governo temporariamente militar, criou o MRND – Movimento Revolucionário Nacional para o Desenvolvimento, que se manteria como único partido político de Ruanda por duas décadas.


Em 1978 foi promulgada a nova Constituição do país e o então presidente convocou a eleição, sendo candidato único ao cargo, fato que se repetiu também nos pleitos de 1983 e de 1989. Nesse mesmo ano o país sofreu um grande baque econômico por conta da grande desvalorização do preço do café, seu principal produto de exportação, que caiu mais de 50% no mercado internacional de commodities, desencadeando uma retração de aproximadamente 40% do PIB do país, fato que promoveu uma crise interna de proporções catastróficas, condenando centenas de milhares de pessoas à morte por desnutrição. Soma-se a isso o significativo aumento com gastos militares, feitos pelo governo, para armar ao país frente à revolta que se organizava.


A crise agravou a situação do então presidente que, por pressões populares, iniciou, no ano de 1990, uma abertura política com o objetivo de transformar Ruanda em uma “democracia” multipartidária. Em meio a esse novo panorama ocorreu a invasão do território nacional por frentes ofensivas do FPR – Frente Patriótica Ruandesa, grupo político armado, fundado em 1986, formado por soldados tutsis exilados nos países vizinhos e concentrados em Uganda, comandado por Paul Kagame, dando início a uma pesada guerra civil, que teve seu cessar-fogo em 1993 quando foi assinado pelas partes um acordo de paz denominado Arusha Accords, no dia 4 de agosto, em Arusha na Tanzânia.


No mesmo período o Conselho de Segurança das Nações Unidas assinou a Resolução 872 intitulada: “Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda” – MIANUR, e enviou dois mil quinhentos e quarenta e oito homens de suas tropas, em sua maioria belga, ao país para impedir a volta de possíveis conflitos; posteriormente soube-se que as forças armadas ruandesas eram abastecidas com armamentos provenientes de potências europeias do quilate de França, Reino Unido, Bélgica, Países Baixos e Israel, além do africano Egito.


Em 6 de abril de 1994, o avião que trazia Juvénal Habyarimana e Cyprien Ntaryamira, então presidente de Burundi, foi alvejado quando se aproximava do aeroporto internacional de Kigali, provocando a morte de seus passageiros, o que ocasionou um forte sentimento anti-tutsis liderado por vertentes radicais dos hutus que acreditavam que o assassinato do presidente havia sido planejado pelo grupo rival.


No mesmo mês a milícia hutu, denominada Interahamwe, liderada por George Rutaganda, um importante fornecedor de bens de consumo na capital Kigali, começou a agir incentivando os milicianos, através da RTML – Rádio Televisão Livre de Mille Collines, a atacar brutalmente todos os tutsis assim como os hutus mais moderados que os abrigavam. O genocídio ocorreu por aproximadamente cem dias, exterminando por volta de um milhão de pessoas, sem que houvesse qualquer tentativa de impedimento por parte de organizações internacionais ou de potências globais, que assistiam imóveis aos massacres.


Frentes rebeldes tutsis combateram o exército e a milícia, impedindo que o genocídio fosse ainda maior; estima-se que foram gastos mais de US$ 130 milhões de ajudas internacionais provenientes de instituições como Banco Mundial e FMI para a compra de armamentos e de munições, sendo que desse montante mais de US$ 4,5 milhões foram destinados para a aquisição de facões, machados, enxadas e martelos, de acordo com a jornalista europeia Linda Melvern.


Grandes campos de refugiados foram formados na fronteira com o Zaire, atual República Democrática do Congo.


No gráfico abaixo é possível analisar o desenvolvimento populacional de Ruanda a partir do início de seu processo de independência com ênfase na acentuada queda entre os anos de 1990 a 1994, período em que o país esteve mergulhado em guerra civil seguida do genocídio no último ano.

Em outubro de 1995, George Hutaganda foi preso e encaminhado à Tanzânia para o cumprimento de prisão perpétua, onde ficou até 11 de outubro de 2010, dia de sua morte. Já o general do Exército Ruandês, Áugustin Bizimungu, foi preso em Angola em 12 de abril de 2002 e condenado a 30 anos de prisão por crimes de guerra.


O atual presidente Paul Kagame, eleito em março de 2000, após a deposição de Bizimungu, toca o país com mão de ferro, sendo acusado, por organizações ligadas aos direitos humanos, de não respeitá-los, assassinando pessoas em custódia da polícia.


Ruanda ainda hoje figura entre os países mais pobres do mundo, sendo que todos eles fazem parte da África Negra; tem uma economia predominantemente agrária e exportadora de commodities, tendo registrado um PIB de US$ 11,260 bilhões em 2007, com elevada taxa de analfabetismo, predominante entre os hutus, e mortalidade infantil conforme dados da Unesco.


Eduardo Candido Gomes


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Quem pagará a conta?

Ao que parece, o legado deixado aos brasileiros pela Copa das Confederações de 2013, pela Copa do Mundo de 2014, pela Copa América de 2015 e pela Olimpíada – Rio/2016 será composto por imensas crateras criadas nos orçamentos das distintas esferas do poder público pelas gruas da impunidade e pelo “jeitinho” que nos é peculiar, sendo cobertas, costumeiramente, pelo suor e pelas palmas calejadas dos contribuintes. Teremos, infelizmente, doze pan-americanos realizados a toque de caixa, que medrarão os ralos privados dos oportunistas profissionais.


A ratificação da incompetência organizacional e administrativa de nossos líderes nos foi novamente exposta, sem rubores, durante entrevista concedida, no mês de setembro, pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que sugeriu, conforme proposto no projeto de lei encaminhado ao Congresso Nacional, a instituição de feriados quando da realização das partidas do campeonato mundial, ou seja, a paralisação produtiva do país por período predeterminado pelo governo, para desse modo maquiar a deficiência das cidades sedes em seus meios de transporte e suas vias de acesso, estruturas que há muito apresentam problemas crônicos.


A pergunta é: Quem pagará a conta dessa paralisação? Todos os dias de jogos serão feriados? No caso de São Paulo, local provável da abertura, como funcionaria? Qual seria o prejuízo estimado para os setores produtivos, principalmente para os pequenos comerciantes?


A surpresa positiva desse debate tem sido o desempenho do deputado federal Romário, cujo tom crítico e firme tem combatido o oba-oba com que a cúpula política do país tem tratado o tema. De acordo com Marco Maia, presidente da Câmara dos Deputados, as esferas que abrangem as obras necessárias para o torneio e as que definem as regras de regulamentação do país durante o evento são distintas.


Em entrevista ao portal G1 no dia 20 de setembro de 2011, Maia disse: “Acho que estamos confundindo alhos com bugalhos nesse tema. Uma coisa é a realização das obras e das ações para a Copa do Mundo (…) outra coisa são as regras que vão regular o funcionamento do país durante os eventos. Não vejo problema e não acho que isso [feriados em dias de jogos] tenha a ver com a fiscalização e com o trabalho que está sendo realizado para que todas as obras estejam prontas”, e concluiu: “Feriado sempre é bom”.


Faz-se necessário, por parte da população, o acompanhamento pormenorizado do controle dos gastos públicos com possíveis obras faraônicas, que serão posteriormente abandonadas, e com as ingerências promovidas pela CBF e pela FIFA, para que não tenhamos problemas semelhantes aos enfrentados pela Grécia pós-Atenas 2004.


Eduardo Candido Gomes


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Meu Amor

De verso em verso
meu caminho
se amplia
em arco-íris
de um querer eterno
de um sentido
de saudade aflita
saudade de você.

Quimera,
doce romance
de garoa sobre a cidade,
utopia, ansiedade,
no abraço que nosso amor
pode,
certeza, viver, luz que mostra
todo o nosso vigor.

Meu peito te recebe
como o mar de um céu
que cai de ebriedade,
música, ternura
e ansiedade.

Eduardo Candido Gomes

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Para Sempre

Vivo o exílio
de mim mesmo.
Diplomacias e verdades
que o meu mundo
abjura.

Vivo o exílio
da palavra e da cor
na expressão do herético,
néscio!

Vivo o exílio
de um sentimento,
végeto de um mundo gris
com a indiferença de um denominador
velívolo de Juquié.

Vivo o exílio
de uma palavra
tecida pelas ruas
da cidade despida
de sol e ausente
“(…) das coisas por sabidas não são ditas e,
por não serem ditas, são esquecidas”

Vivo o exílio
do que é remoto
e sentimento
do que é fugaz,
e constante refazer-se
de marés em Maresias.

Eduardo Candido Gomes

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segunda-feira, abril 02, 2012

Emoções que o tempo não apaga

Dizem que a morte nos envolve quando deixamos de olhar para o presente do presente e do futuro, quando nos voltamos apenas às saborosas lembranças, ornadas pelos melancólicos sons de tempos dourados.

Tive desvelados mistérios, curiosidades, intrigas, fatos, em um mergulho de cavernas subterrâneas em meio a uma sexta-feira ordinária, de cenário noturno, sombrio, gélido, de alamedas, invertidas e solitárias, sutilmente umedecidas pela tênue garoa paulistana de invernos pretéritos, presentes e futuros.

Caminho a passos largos sob firmamento sem pérola, sem vagalumes, ultrapasso a porta giratória, percorro o lobby, deserto, e ouço conversas distantes provindas do piano-bar, desço alguns lances de escada rolante, seguindo as placas que me indicam o caminho, à minha esquerda está um senhor de cabelos escassos, bigode bem aparado, vestido impecavelmente em um terno escuro com riscas de giz bem cortado. Oferece-me uma taça de champanhe, cuja garrafa repousa em meio ao gelo, que recuso e agradeço. Adentro a uma antessala retangular com três mesas, ornadas com arranjos de flores, e o mesmo número de cadeiras em cada uma delas, dispostas por toda a extensão do ambiente, ostentando dois quadros, que retratam a contemporaneidade urbana em cores vivas, em sua parede principal, e outro menor, abstrato, exibido no lado oposto. Ao fundo, dois sofás em couro preto acomodam casais que conversam enquanto aguardam o início da apresentação. Transpasso o recinto e chego ao auditório, cujo solo é ornado por um elegante carpete vermelho com detalhes em cor de ouro, e as cortinas são aveludadas em tom grená, acomodo-me confortavelmente na poltrona N12 e aguardo alguns instantes; aquelas abrem-se e permitem o acesso da plateia, ainda com lugares desocupados, à banda disposta em uma estreita porção de palco ao lado direito dos espectadores.

Surgem os primeiros acordes e desabrocha, de cordas e de sopros, Cole Porter em Night and day. O negrume recompõe-se, sendo rompido, em seguida, por um feixe de luz que dispõe em evidência uma típica mesa de cafés parisienses, vive-se o ontem, na atmosfera, na decoração, nas pessoas, nos pensamentos, no Auge. A história personifica-se e gaba-se de seus feitos, cantando os sucessos (…), sou transportado em imagens, em sons, pelos anos oitenta, em lugar cativo nas apresentações seletas de monstros, como Frank Sinatra, Tom Jobim, Johnny Alf, Edu Lobo, Taiguara, Pixinguinha, Michel Legrand, Bobby Short, Alberta Hunter, Julio Iglesias, Lionel Hampton, Chico Buarque, Paquito D’Rivera (…), cada qual com sua magia, fortificando as fundações desse que foi um templo cultural cujo requinte fora degustado a cada bom dia, a cada serviço, a cada acorde dedilhado entre a São Carlos do Pinha e a alameda Campinas.

Entre cilindros, arrepios; diamantes cujos quilates são incontáveis, e cujos brilhos assemelham-se às mais potentes estrelas do cosmos, eram devorados pelas janelas d’alma a cada nova nota.

Emoções que o tempo não apaga. Emergi após cento e vinte minutos de êxtase, e enquanto as cortinas cerram-se Sinatra canta As time goes by, com um cigarro em sua mão esquerda, com o microfone dourado em sua mão direita, com a gravata borboleta deslocada, já ao final do show, escorado em um banco, com a tranquilidade peculiar de uma apresentação durante uma reunião entre amigos em sua sala de estar na Nova York que tanto cantou em suas músicas, dominando a todos os presentes naquele momento e em outros.

Aplausos (…).

Levanto-me e, ao fundo, está sentado um senhor, com fortes marcas de expressão e solitário, pelo menos naquele instante, em sua poltrona, apartado do restante do público que contemplou o espetáculo naquela noite fria. A plateia esgota-se sem entender as razões que o fazem manter-se estático. Com olhar distante, em seu teatro, dentro de seu hotel, Henry Maksoud digere cada estrofe cantada, a cada sexta-feira dos últimos seis anos, no show de suas realizações, revivendo momentos que o mantêm preso há trinta longos ciclos em emoções inesquecíveis de noites de gala; e ele continua lá, olhando para aquele palco vazio, já escuro, despedindo-se, por alguns dias de sua vida, até a próxima apresentação.

Eduardo Candido Gomes

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domingo, abril 01, 2012

Coração Anárquico

Cólera,
ventura,
gozo,
tortura,
coração anárquico.

De caminho errante
peito estéril,
insistência pulsante,
em amor ferio;
tibieza subverSiva!

Metamorfose
em cárcere úmido;
Âmago acorrentado!
Overdose
em sentimento púnico,
Inebriado.

Habita-me
saca-me as asas (…)
deixa-me voar,
conhecer a força da imaginação,
a outra margem (…)
a palavra;
deixa-me voar,
viver em cores,
em sonhos coletivos (…).

Desvela em mim
cândidas aventuras
em trianons
acalentados por orvalho
sob nascente sol de Bomfim.
Desvela em mim
tua essência.

Eduardo Candido Gomes

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