“Muitas pessoas faliram por ter investido maciçamente na prosa da vida.

É uma honra arruinar-se por causa da poesia.”

Oscar Wilde

sábado, março 31, 2012

Incompleto

Escalo degraus
raiados em tom pastel.
Deito-me (…)
olhos cerrados,
intenções sobrepostas,
envolto
em essências de fadas.

Sonho,
os lábios bailam
melodias esvaídas;
contemplo-os,
desejo-os,
interrompo-os (…).
Afagos!

Aspiro
ao balé da vida,
tardes avermelhadas
subtraindo seivas
cujos aromas, exclusivos,
encantam
(…)
A brisa acaricia,
rouba beijos trocados
em cenários
presentes em mim.

Resido em Vênus,
visito Marte,
viajo por estrelas,
abraçando o cosmos,
caudas de cometas,
nuvens de algodão,
(…)
revoadas estelares em
sinfonias divinas.

Desperto
com sublime sopro
que me toca.
Acordo contigo
presente.

Por longos períodos
penso, cobiço, (…),
clamo pelo azul-noite,
para encontrar-te
em voos prateados,
em pés de pombos-correios,
em flores consumidas
por beija-flores insistentes.

Por longos períodos
penso, cobiço, (…)
por momentos que
farão meu coração dançar.

Eduardo Candido Gomes

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sexta-feira, março 30, 2012

Sem título

Meu coração chora,
como hoje chora a Paulicéia,
envolta em denso
manto
carregado por
desastres
ou por
salvação…

Meu coração chora,
não
pela distância,
mas por não mais
senti-la;
chora anestesiado
pelo gélido
descaso
de sua inoperância.

A solidão de suas lágrimas
vertem, por sangrias
desconjuntas,
de beija-flor que
sacia a sede
em cactos
desajustados,
no vazio
de mim,
irrigando
densos estreitos,
com dor.

Seus prantos
não são de culpa,
mas de medo…
medo de
testemunhar
o início
do fim…
Medo de perceber
que a beleza
e a jovialidade
de outrora
retomaram seu posto
no autorretrato,
e foram
subtraídas,
pelo tempo,
das células,
que os sorrisos
fraternos
já não mais são dados,
que os amores,
puros,
são concebidos
em lençóis
sem nomes…

Fendas abertas,
consumidas
para serem
limpas
antes de
cicatrizadas…
nos reconstruímos
em nós mesmos,
em nossas fraquezas,
em nossas dores…
dores
causadas
pela infidelidade
a que nos permitimos,
ao violentarmos nossos
pontos de vista,
em detrimento de
alguém.

Hoje vejo
que não sou um mero
bibelô
para ser exposto
em sua sala
de estar…

Seu descaso
fortificou-me,
desenvolveu
escudos que me tornam
impenetrável,
salvaguardam
os sentimentos…

Hoje
“resisto a tudo,
menos às
tentações”.

Eduardo Candido Gomes

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quinta-feira, março 29, 2012

Vivi

Vi Vivi viva
na bela Guanabara,
vi Vivi bela
na viva Guanabara,
a vi,
digo, Vivi,
sob os braços
redentores,
colorindo com
americanas
matizes
o sertão
de
Suassuna,
os versos
de
Augusto
dos Anjos,
os morros
da
cidade
do Império.

Vi Vivi viva
desfrutando
de
vindas e
idas,
de orlas
oscilantes,
de rosas,
em bronze,
que repousam
nas mesas de
ontem,
de beija-flores
apaixonados
que pairam,
para ouvir
Orfeu,
enquanto
pés apressados
banham-se
nas
ondas
portuguesas
de Copacabana.

Vi Vivi bela
em prantos
luminosos
que beijavam o
solo e
fomentavam
seu caminho,
cultivando amizades,
amores,
histórias,
...
declamando glossários
ao
áureo crepúsculo
do Jacaré,
que, acariciado
pela brisa do
entardecer,
aclama e
aduz
distantes vagalumes
refletidos por
campos então
turquesa...

Vi
horizontes,
sonhos nascentes,
andejos
inquietos
que, como Vivi,
buscam
vivazes
pelo canto
dos colibris,
por primaveras
coruscantes,
pela
felicidade
encontrada no arco-íris
após a tormenta,
por sensações e sentimentos
que correm
por eitos
desconhecidos
...
que correm
por leitos
que não
desaguam no mar.

Digo
que vivi
e vi Vivi viva
e bela como sempre!

Eduardo Candido Gomes

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quarta-feira, março 28, 2012

Vivo

Vivo
o tácito
crepúsculo
de arrebol
ausente,
entre goles
e gotas
e goles
e dores

sensações disrítmicas
que beijam
meios-fios
da desvairada de
Andrade…

Arrefecido,
pulso,
entre tragos,
largos, curtos,
brutos,
embraseados por
devaneios
extintos
um
a
um

CINzas

sonhos
natimortos
a cada esquina,
sob cada marquise,
sob jornais de ontem,
sobre Homens
sem
identidades,
amedrontados,
famintos…
(párias
sem pátrias)
a cada esquina
torno-me menos Homem,
a cada esquina
torno-me menos vivo,
a cada esquina.

Valdevinos
rasgam,
como andantes
de suas próprias
sinfonias,
tortuosas veredas,
sob
noites
sem estrelas,
arremessando
tarrafas
em renques
subtraídos,
em mares
desidratados.

Vidas
espargidas,
em meio à
multidões anacoretas,
em meio a
beijos recusados,
em meio a
cartas sem respostas,
em meio a
abraços incompletos,
em meio a
tentações perenes,
em meio a
anjos incorridos,
em meio a
amores sem faces,
vidas
sem vida,
…,
vidas ocas.

Vivo
um sonho
doce-amargo,
sem final
feliz.

Eduardo Candido Gomes

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terça-feira, março 27, 2012

Louco

Ensandecido
em tempos
de dor
flerto,
insistente,
junto ao
anjo,
incessível,
com foice
domado
e manto
negro.

Perco,
entre rasantes,
a meio
fio,
tangentes
ao
fio
da navalha
mais
afiada,
a vida
presente
em minhas
escolhas


presente
nos olhos
da
infância


presente
nas
cores
de meus
caminhos


presente nos sonhos nunca tidos e assim não desvelados.

…………………………………………………..
VERmelho SANgue
latente em mergulhos por labirintos sem fim!
…………………………………………………..

Ora,
embora
ore
pelos corações
desesperados,
sigo,
com braços
atados,
suportando
insensíveis noites
em dias
de
verão

noites
de estrelas
ausentes
como os
são
limoeiros
nas terras
de
Jerusalém,
como os
são
sorrisos
em
Auschwitz-Birkenau,
como os
são
amantes
sem pares.

Dionísio,
verte seu
CÁLIce
com trago
robusto,
brinda
à minha
idiossincrasia,
enquanto
sinto
o gosto
amargo
da solidão
sob
céus
ermos.

Eduardo Candido Gomes

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segunda-feira, março 26, 2012

Primaveras

Vivo de lembranças isoladas,
de flores de plástico,
surpreendidas
no baixo augusta,
vivo de acenos não recíprocos,
em meio a multidões
que devoram sinaleiras
às seis da tarde,
vivo de beijos jamais dados
em bocas nuas…
beijos ausentes,
de enamorados distantes
que se alimentam
da memória.

Beijos e memórias
rubras
por humores desvelados
em saborosas tardes
desfrutadas
nos jardins
da Casa das Rosas,
por desejos
mantidos em cárcere
enquanto o reencontro
mostra-se impossível,
por vigores
de coração pulsante
com força e ritmo
de bate-estacas…
rubras
por amores construídos
a cada olhar,
a cada sorriso,
a cada bebida degustada no
charmoso café
da Pinacoteca do Estado,
por amores vividos
a cada segundo,
e por seus segredos
repletos de aromas ainda
desconhecidos.

Há tempos
não vejo o sol,
não escuto os duetos,
os trios,
os quartetos
que se apresentam
ao amanhecer.

Há tempos
cometas não cruzam
meu caminho,
estrelas não brilham
em minha janela
não brinco com as nuvens.

Há tempos
não aprecio ao baile
das jangadas
que chegam e que partem,
ao gingado das tarrafas
à beira-mar.

Há tempos
meu coração dança
estático!

Degusto, contudo,
primaveras ocultas
nas paletas de
Van Gogh,
sinfonias
compostas nos vãos do Masp
que nos tocam
caladas,
tanguarás imaginários,
privados de suas habilidades,
em decorrência de
ébanos ciclos
de clausura.

Degusto, contudo,
as nuances e
complexidades
que formam
a mim
mesmo.

Eduardo Candido Gomes

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domingo, março 25, 2012

A ti

Sou
sentimento
sob
pressão
a cada centímetro,
sentimento
que
represado
ascende em
ebulição,
sentimento
que
busca,
incessante,
por
sangrias
que
lhe permitam
cruzar
o
firmamento,
tal qual
jatos
que
sangram
em busca do
infinito
...

Sou
emoção
que sangra
pela
pena,
que
gera
comoção
a amantes
...
a amados,
que por
hora encontram-se
apartados
por
grandes distâncias
ou
pequenas

Que
comova
a todos,
não me importo,
já que
padecem de
similar
enfermidade,
contudo,
escrevo
a ti
minhas verdades,
pois é
por
ti
que
as sinto.

Hoje
um
pombo-correio,
como num sonho
sem começo
e
sem fim,
cruzou meu caminho
levando,
com a velocidade
de um raio,
uma atadura
de coração
ferido,
tentei questioná-lo
por qual rumo
seguiria
para que
a ti
entregasse
minha
alegria,
mas meu
ensaio
foi em
vão.

Não entenda
minha
distância
como
um não,
pois
por ti,
exalo SIM
em
cada poro,
em
cada olhar,
em
cada lágrima
em
cada sorriso,
em
cada altar.

Eduardo Candido Gomes

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sábado, março 24, 2012

Sexta-Feira

As noites de sexta-feira sempre brilham mais, são mais belas, aguçam nossos sentidos, nos tornam apreciadores das belezas mundanas da vida, talvez por nos brindarem com a atmosfera de alegria e de descontração que nos embala com a chegada dos fins de semana, com a chegada de dias que nos farão realizar os sonhos mais puros ou mais insanos, em horas vividas em alta intensidade.

Sinto-me mais romântico as sextas, tudo a minha volta parece se mover em velocidade reduzida, com a trilha sonora certa para cada momento, ouço, de fato, aos cantos dos pássaros, e esses me são mais afinados, noto as flores nos topos das árvores da Ribeirão Preto, que, veementes, se mostram mais sedosas, degusto, após partidas de paralelepípedos nas ruas do passado, o doce de sede saciada com frutos maduros, desfruto, à distância, dos bares da Augusta repletos de pessoas interessantes traçando planos entre goles, entre tragos, entre beijos,…

A cada sexta-feira revivo minhas ânsias, meus medos, minhas vontades, …, a cada sexta-feira mergulho, por entre copos, garrafas, sarjetas, em uma busca coletiva pelas nuances da vida, a cada sexta-feira busco em si um pouco mais de mim e em mim encontro o desconhecido.

Eduardo Candido Gomes

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